Ontem este blog fez aniversário de um ano de existência. Não se trata de uma comemoração, mas, de um recomeço. E vasculhando as memórias de minha mente, lembrei-me de quando me interessei por leitura. Pensava que comigo as coisas aconteciam com atraso e depois de observar bem, percebi que, na verdade, acontecem no momento certo e de acordo com o tempo de cada um (ou seja, o que somos é o retrato do que fazemos ou deixamos de fazer hoje).
Escritores consagrados relataram em entrevistas, escritos, diários, etc, a importância do ato de ler como mais relevante que o ato de escrever. Era unânime entre eles o prazer pela leitura e como consequência desta, escreviam. Se não me engano, João Cabral de Melo Neto já no fim de seus dias e quase sem visão pagava uma pessoa para ler para ele. O hábito de escrever para muitos escritores é posterior, vem depois, decorre do hábito de ler.
Meu gosto pela leitura surgiu um pouco tarde para ser escritor, mas cedo para alguém que almejava ser professor. O ano era 1989 e eu estudava no Geo Studio (uma daquelas escolas de momento, que surgem e desaparecem com o mesmo ímpeto, aproveitei este momento). Nessa época morava na periferia, mais precisamente no Henrique Jorge e a escola ficava na Aguanambi, em frente ao Jornal O Povo.
É nesse contexto que entram na história meu pai e o livro “Literatura comentada – Carlos Drummond de Andrade” (Editora Nova Cultural). Meu pai, porque comprou o livro e costumava escrever músicas e poemas e quando bebia nos obrigava a ouvi-los, e ai daquele que reclamasse dessa oportunidade única (em outra oportunidade falarei sobre os poemas do poeta Raimundo Ferreira, meu pai). O livro, porque costumava levá-lo (mais para impressionar os outros do que para, realmente, ler) à escola entre outros livros de peso[1] que eram obrigatórios. Foi numa dessas idas e vindas, com o livro, que um amigo “leitor” perguntou se eu conhecia o poema “A flor e a náusea” de Carlos Drummond de Andrade, e eu prontamente respondi que sim, ele se empolgou tanto com o livro que se esqueceu de comentar o poema, o que foi um alívio para mim, pois, de fato, não o havia lido. Aproveitei a oportunidade e a curiosidade despertada pela vontade de ler do meu colega e passei a ler o poema, depois li outro, e mais outro e o livro inteiro.
Isso demonstra duas coisas: a primeira, é que experiência de gosto pela leitura é individual e acontece de forma diversa com cada pessoa. Comigo aconteceu desta forma: a influência indireta de meu pai e direta de um amigo que já tinha o hábito de ler. A segunda, é que a leitura pode ser tão marcante que pode influenciar, consideravelmente, o gosto por determinado gênero, no meu caso, o poema. Além de Drummond, outros poetas caíram na minha graça: Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto; os portugueses: Cesário Verde, Fernando Pessoa e seus heterônimos, Florbela Espanca, Antero de Quental, Camões, Almeida Garrett, entre outros.
Fica a dica e a experiência. Ler está a alcance de todos, basta ter acesso a um livro e abri-lo, seja por curiosidade, seja por influência, no fim, o que vale é o simples ato de abrir um livro e ler.
[1] Nessa época éramos obrigados a levar livros que pesavam toneladas e quase não eram utilizados em sala de aula.